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sexta-feira, 8 de novembro de 2019

"Vozes Atlânticas" - Mês da Consciência Negra - no Memorial Vale

Obras podem ser vistas até o dia 2 de fevereiro em BH
Foto: Reprodução/Chamberlain
O Memorial Vale abre, neste sábado(9) às 15 horas, a exposiçãVozes Atlânticas da pesquisadora Thaís Tanure, dentro do projeto Novos Pesquisadores do Memorial Vale. Nessa mostra ela revela o que descobriu em sua pesquisa acadêmica sobre a ação da inquisição portuguesa no Brasil no século XVIII, dando pena de degredo para cidadãos que praticavam atos considerados heresia ou feitiçaria. O destaque da pesquisa é dado para dois africanos escravizados e trazidos para o Brasil  Luzia Pinta e José Francisco  que, por preservarem práticas de sua cultura  benzeções, curas com ervas, entre outras tradições  foram degredados para regiões distantes do Brasil e de sua pátria original. A exposição mostra fotografias e objetos da época, contando os passos desses dois personagens nos lugares onde eles viveram e resistiram a toda a opressão portuguesa. Entrada gratuita, no horário de funcionamento do Memorial Vale. A exposição segue até o dia 2 de fevereiro de 2020.

No dia 26 de novembro, terça-feira, às 12h30, também no Memorial Vale, Thaís Tanure falará com o público sobre sua pesquisa. O estudo de Thaís segue os passos de Luzia Pinta e José Francisco em Angola, Uidá, Rio de Janeiro, Sabará, Lisboa, Castro Marim e galés. Mesmo perseguidos pela Inquisição e passando por sucessivos processos de desenraizamento, essas pessoas resistiram e lutaram para viver segundo suas culturas, buscando espaços para decidir sobre seus destinos.

Thaís explica que o degredo foi uma pena longeva em Portugal e seus espaços coloniais, e consistia em afastar o condenado de seu local de residência enviando-o para uma região distante ou colonial. Iremos discutir em que bases filosóficas se assenta a pena de degredo e seus ecos na contemporaneidade, explica Thaís.

As principais fontes trabalhadas são os processos inquisitoriais da Inquisição portuguesa. Denunciados ao Santo Ofício por delitos como feitiçaria, curas supersticiosas, sodomia e bigamia, as acusações continham muitas vezes traços culturais africanos desconhecidos aos olhos dos inquisidores. Buscando decompor o discurso da Inquisição e perseguindo esses traços culturais - na esteira de Carlo Ginzburg - discutiremos o processo inquisitorial como fonte histórica e suas possibilidades de utilização para o estudo das culturas africanas e do degredo de escravizados, acrescenta.

Visto como mercadoria no direito civil e comercial e como pessoa imputável no direito penal, o estatuto jurídico ambíguo do escravizado tambéé analisado. Essa ambiguidade leva ao fato de que os senhores ficavam sem a mão de obra de seus cativos durante o tempo de cumprimento da pena, e alguns deles protestaram escrevendo cartas ao Santo Ofício.

Tendo como metodologia a História Atlântica, observaremos os escravizados que moravam no Brasil e que foram perseguidos pela Inquisição e degredados passarem por uma nova travessia e por um novo processo de desenraizamento. Mas não sem resistir, completa a pesquisadora.

Memorial Vale abre a exposição Vozes Atlânticas
Data: 9/11 (sábado), abertura da exposição, e dia 26/11, terça-feira, às 12h30, bate-papo com a pesquisadora Thaís Tanure
Horário: 15 horas na abertura da exposição, e, daí em diante, no horário de funcionamento do Memorial Vale
Local: Memorial Vale, Praça da Liberdade, 640, esquina com Gonçalves Dias.
ENTRADA GRATUITA, sujeita a lotação do espaço.
  
MEMORIAL MINAS GERAIS VALE
Endereço: Praça da Liberdade, 640, esq. Gonçalves Dias, Belo Horizonte/MG
Horário de funcionamento: terças, quartas, sextas e sábados, das 10h às 17h30, com permanência até 18h. Quintas, das 10h às 21h30, com permanência até 22h. Domingos, das 10h às 15h30, com permanência até 16h.

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