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quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Casa Fiat de Cultura apresenta exposição "Rembrandt - o mestre da luz e da sombra"

Foto: Leo Lara
Poucos artistas foram capazes de traduzir a alma humana com tanta profundidade quanto Rembrandt van Rijn (1606–1669). Entre claros e escuros, o mestre holandês reinventou a gravura no século 17 e inaugurou uma nova forma de olhar o mundo. Até 25 de janeiro de 2026, a Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte, realiza a exposição “Rembrandt – o mestre da luz e da sombra”, reunindo 69 gravuras originais do artista. Com curadoria de Luca Baroni, diretor da Rede dos Museus da  Região Marche Nord (Itália), a mostra chega a Belo Horizonte após temporada no Rio de Janeiro, no Centro Cultural dos Correios e é uma oportunidade rara para o público brasileiro entrar em contato com a delicadeza e a força poética de uma das mentes mais brilhantes da história da arte. A entrada é gratuita.

As obras pertencem a uma coleção privada administrada pela The Art Co., de Pésaro, na Itália, sob a supervisão científica da Rede dos Museus da Região Marche Nord, e abrangem diferentes fases da produção do artista, de 1629 a 1665, representando quase um quarto de toda a sua obra gravada. A mostra proporciona um panorama profundo sobre a genialidade técnica de Rembrandt, seu olhar humanista e seu domínio inigualável do claro-escuro. Depois da Casa Fiat de Cultura, a exposição seguirá para o Palácio Anchieta, em Vitória (ES). 

Rembrandt é reconhecido como um dos maiores mestres da arte ocidental. Sua genialidade está em capturar a essência da experiência humana, dando à luz e à sombra um papel narrativo e emocional. “O que torna Rembrandt atemporal é a capacidade de capturar a alma humana. Suas obras traduzem emoções e dilemas universais, como dor, fé, amor, envelhecimento e esperança. Olhar para uma gravura sua é atravessar os séculos e ainda encontrar relevância, humanidade e verdade”, explica Luca Baroni, curador da mostra e diretor da Rede dos Museus da Região Marche Nord, na Itália. 

Na exposição, o público poderá apreciar obras emblemáticas como Autorretrato com Saskia (1636), A Descida da Cruz (1633), Ressurreição de Lázaro (1632), A Fuga para o Egito (1633), O Jogador de Cartas (1641) e Três Árvores (1643). Para o curador Luca Baroni, outras duas peças merecem atenção especial: “A Morte da Virgem” (1639), em que a luz que desce do alto transfigura o corpo de Maria e a cena em um instante de passagem entre o humano e o divino; e “Busto Feminino” (1630), surpreendente por retratar uma mulher negra com dignidade e intensidade inéditas para sua época. A seleção reflete a amplitude de temas que Rembrandt abordou: das passagens bíblicas às cenas cotidianas, dos retratos intimistas às paisagens melancólicas, sempre com um olhar atento à humanidade de seus personagens. 

Sobre a realização da mostra em Belo Horizonte, o presidente da Casa Fiat de Cultura, Massimo Cavallo, destaca o significado simbólico de trazer um mestre como Rembrandt para o público mineiro. “A Casa Fiat de Cultura se consolida, a cada nova exposição, como um espaço de encontro entre tempos e culturas. Oferecemos uma experiência estética de amplitude rara que vai da arte contemporânea a obras consagradas como as de Rembrandt.” 

A exposição “Rembrandt – o mestre da luz e da sombra” é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, da Premium Comunicação Integrada de Marketing e da Casa Fiat de Cultura. Conta com o patrocínio da Biancogres, do Supermercados BH, da Stellantis e da Fiat. A mostra tem apoio institucional do Circuito Liberdade, além do apoio do Governo de Minas e do Programa Amigos da Casa.  A organização é da The Art Co.  em conjunto com a Brasil Meeting Points. 

A técnica como poesia 

Em suas gravuras, a técnica se transforma em linguagem espiritual. O uso inovador da luz e da sombra, chamado chiaroscuro, atinge seu auge: a luz revela não apenas o volume, mas a emoção, e a sombra esconde e, ao mesmo tempo, convida à introspecção.  

Rembrandt foi pioneiro na arte da gravura em água-forte e ponta-seca, técnicas que exigem precisão e sensibilidade. O artista gravava suas matrizes em chapas de cobre, cobrindo-as com uma fina camada de cera onde traçava o desenho com uma agulha. Ao mergulhar a chapa em ácido, as linhas se fixavam no metal, dando origem às imagens. Com o uso da ponta-seca, conseguia linhas mais suaves e profundas, criando texturas quase pictóricas. 

Seu processo era inovador e intuitivo. Em vez de buscar uma perfeição técnica imediata, o artista explorava a experimentação: alterava suas matrizes, imprimia novas versões, ampliava contrastes e, muitas vezes, deixava a tinta acumular-se propositalmente nas chapas, produzindo áreas de sombra densa e misteriosa. Cada impressão, portanto, era única. 

Segundo Luca Baroni, “Rembrandt não gravava apenas imagens, mas ideias. Ele usava a matriz como um laboratório, um espaço de invenção. Suas gravuras são fragmentos do pensamento em movimento, registros visíveis da própria criação artística.” 

Espelho da alma 

As gravuras apresentadas na Casa Fiat de Cultura revelam o caráter profundamente experimental de Rembrandt. Ao contrário de muitos artistas de sua época, que seguiam regras rígidas de composição, ele ousava. Explorava o erro como parte do processo, imprimindo camadas sobre camadas até atingir o equilíbrio entre o visível e o imaginário. 

Esse espírito experimental pode ser percebido em obras como Cristo Pregando, também conhecida como Os Cem Florins (1648), considerada uma das mais complexas gravuras do artista. Nela, a luz parece surgir de dentro da própria cena, como se a fé iluminasse o espaço. Essa fusão entre técnica e transcendência fez de Rembrandt um dos nomes mais influentes da arte mundial, admirado por artistas como Goya, Picasso e Van Gogh

A influência da arte italiana 

Embora nunca tenha visitado a Itália, Rembrandt manteve um intenso diálogo com os mestres renascentistas e barrocos italianos, como Rafael, Ticiano e Federico Barocci. Através das gravuras e desenhos que circulavam na Holanda, ele absorveu a “luz italiana” e a transformou em uma matriz espiritual para sua própria pesquisa sobre o claro-escuro. Essa relação invisível, mas poderosa, moldou uma linguagem universal da luz, em que emoção e razão, sombra e revelação, convivem em harmonia. 

O curador destaca que “a exposição na Casa Fiat de Cultura destaca essa herança, evidenciando como o olhar de Rembrandt dialoga com a tradição humanista italiana ao mesmo tempo em que anuncia uma modernidade inquieta, marcada pela introspecção e pela busca de uma verdade interior”.  

O legado de um mestre 

Rembrandt deixou cerca de 300 pinturas, 300 gravuras e mais de 2 mil desenhos, entre autorretratos, paisagens, retratos coletivos e cenas bíblicas. Mais do que representar o visível, ele procurava compreender a alma humana. 

O legado de Rembrandt atravessa séculos. Suas inovações no uso da luz e da sombra inspiraram práticas na pintura, na fotografia, como o conhecido esquema de ‘Rembrandt lighting’, e técnicas de iluminação no cinema. Sua forma de trabalhar o claro-escuro tornou-se um recurso visual que traduziu a condição humana em traços de luz e penumbra. 

“A Crucificação” (1641) e “A Ressurreição de Lázaro” (1632) 

Uma experiência estética e acessível  

Na Casa Fiat de Cultura, a mostra foi concebida para oferecer uma experiência de imersão e contemplação nas obras de Rembrandt. Em um ambiente de iluminação controlada, as gravuras são expostas de modo a destacar o contraste entre luz e sombra. O público receberá lupas para observar cada detalhe das gravuras.  

A exposição também apresentará conteúdos educativos e recursos de acessibilidade, como releituras táteis em 3D, entre elas uma reprodução do autorretrato de Rembrandt, que permite aos visitantes com deficiência visual “tocar” e perceber as expressões do artista.  

Na sala de leitura, o público encontrará uma bibliografia selecionada sobre a vida, a obra e o contexto artístico de Rembrandt. Já na sala imersiva, reproduções em animação transportam o visitante para o universo visual de Rembrandt, permitindo explorar seus traços minuciosos, jogos de luz e sombra e detalhes quase imperceptíveis a olho nu. Esses ambientes convidam à observação atenta e ao despertar do imaginário, conectando passado e presente por meio da experiência sensorial e da curiosidade intelectual. 

Rembrandt: o artista e o homem 

Nascido em Leiden, em 1606, Rembrandt é considerado um expoente da Era de Ouro holandesa. Desde cedo, destacou-se como pintor e gravurista, alcançando reconhecimento em Amsterdã durante o período do Barroco. De família humilde era o quinto filho do dono de um moinho à beira do rio Reno (Rijn). O amor pelo rio fez seu pai incorporá-lo ao próprio nome passando a assinar Harmen Gerritz van Rijn. 

Todos na casa moíam grão, mas Rembrandt gostava de pintar e queria ir para a escola. Aos sete anos ingressou na Escola Latina de Leiden. Com muito sacrifício, seu pai o matriculou na Universidade de Leiden, mas só conseguiu mantê-lo durante nove meses. 

Ao deixar a universidade, Rembrandt ingressou no ateliê do pintor Jacob Isaaksz, que lhe ensinou a técnica, o preparo das tintas, a montagem das telas e a disciplina do desenho. Em 1623, aconselhado pelo professor, foi para Amsterdã, onde estudou com o pintor romanista Pieter Lastman. Em 1627, Rembrandt voltou para Leiden e instalou seu próprio ateliê com seu amigo e também pintor Jan Lievens. Nessa época, recebeu várias encomendas particulares. 

Em 1631, após a morte do pai, resolveu instalar-se em Amsterdã. Um ano depois já era famoso, um dos pintores mais caros e procurados da cidade. Rembrandt retratava os ricos e bem-sucedidos burgueses, pois era moda enfeitar as paredes com o próprio retrato. Em 1632, pintou um dos seus quadros mais famosos: A Lição de Anatomia do Doutor Tulp (1632). O sucesso da obra provocou dezenas de encomendas de retratos em grupo. 

Com riqueza de detalhes, grande expressividade e forte apelo dramático, Rembrandt desenvolveu um estilo singular. Influenciado inicialmente por Caravaggio, fez uso de uma técnica refinada, retratando cenas religiosas, cotidianas, e ainda, temas mitológicos e algumas paisagens. Parte de seu trabalho é notório o uso de cores frias, enquanto em outros, Rembrandt optou por usar cores fortes e vibrantes. Além disso, uma de suas técnicas de pintura estava no intenso jogo de luz e sombras característico do estilo barroco. 

Rembrandt faleceu em outubro de 1669, aos 63 anos, em Amsterdã, sendo enterrado num túmulo desconhecido. Contudo, o reconhecimento do seu gênio artístico foi recuperado a partir do século XIX, consolidando-o como um dos maiores artistas de todos os tempos. 

Luca Baroni, curador  

É Diretor da Rete Museale Marche Nord e professor adjunto na Universidade Ca' Foscari de Veneza. Entre 2012 e 2022, estudou história da arte na Scuola Normale Superiore em Pisa, primeiro como aluno de graduação e depois como doutorando, sob a supervisão do Professor Massimo Ferretti. Em março de 2023, obteve seu doutorado com a dissertação Federico Barocci. É membro correspondente da Deputazione di Storia Patria per le Marche e membro da Accademia Italiana della Cucina.  

Realizou pesquisas em importantes museus nacionais e internacionais: entre 2015 e 2017, no Departamento de Gravuras e Desenhos da Uffizi, onde foi curador da exposição Simone Cantarini. Obras em Papel na Uffizi; em 2019 no Staatliche Museen zu Berlin; em 2020 no Warburg Institute em Londres; e entre 2021 e 2022 no Departamento de Gravuras e Desenhos do Museu Britânico.   

Sua pesquisa acadêmica concentra-se na arte italiana entre os séculos XVI e XVIII, com ênfase particular em obras sobre papel (desenhos e gravuras). Também investigou artistas como Rafael, Anselmo Bucci, Raffaello Schiaminossi, Giuseppe Diamantini e Rembrandt, aos quais dedicou exposições e publicações. Contribui regularmente para periódicos acadêmicos, incluindo Master Drawings, Bollettino d’Arte, Print Quarterly e Artibus et Historiae. Desde 2015, foi curador de mais de vinte exposições, abrangendo desde Antigos Mestres até arte contemporânea. Desde 2024, é membro do Conselho Científico e Editorial do periódico L’Idea | Testi Fonti Lessico • Disegni. Em 2025 tornou-se Tesoureiro do Edição Nacional das Obras de Federico Zuccari.   

Casa Fiat de Cultura

Cumpre importante papel na transformação do cenário cultural brasileiro, ao realizar relevantes exposições. A programação estimula a reflexão e interação do público com várias linguagens e movimentos artísticos, desde a arte clássica até a arte digital e contemporânea. Por meio do Programa Educativo, a instituição articula ações para ampliar a acessibilidade às exposições, desenvolvendo réplicas de obras de arte em 3D, materiais em Braille e atendimento em libras. Mais de 100 mostras, de consagrados artistas brasileiros e internacionais, já foram expostas na Casa Fiat de Cultura, entre os quais Caravaggio, Rodin, Chagall, Tarsila, Portinari e outros. Há 19 anos, o espaço apresenta uma programação diversificada, com música, palestras, residência artística, além do Ateliê Aberto – espaço de experimentação artística – e de programas de visitas com abordagem voltada para a valorização do patrimônio cultural e artístico. A Casa Fiat de Cultura é situada no histórico edifício do Palácio dos Despachos e apresenta, em caráter permanente, o painel de Portinari, Civilização Mineira, de 1959. O espaço integra um dos mais expressivos corredores culturais do país, o Circuito Liberdade, em Belo Horizonte. Mais de 4,5 milhões de pessoas já visitaram suas exposições e 800 mil participaram de suas atividades educativas. O espaço integra um dos mais expressivos corredores culturais do país, o Circuito Liberdade, em Belo Horizonte.  

Exposição “Rembrandt – o mestre da luz e da sombra” na Casa Fiat de Cultura 

Período expositivo: Até 25 de janeiro de 2026 

Visitação presencial: terça-feira a sexta-feira das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h (exceto segundas-feiras)   

Entrada gratuita 

Casa Fiat de Cultura     

Praça da Liberdade, 10 – Funcionários – Belo Horizonte/MG    

Circuito Liberdade   

Horário de Funcionamento   

Terça-feira a sexta-feira, das 10h às 21h     

Sábado, domingo e feriado, das 10h às 18h    

Informações         

Instagram: casafiatdecultura     

YouTube: Casa Fiat de Cultura 

Use máscara cobrindo a boca e o nariz. Se cuide!

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