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domingo, 29 de setembro de 2024

Casa Fiat de Cultura Inaugura “Nó – O Enlace da Renda e da Chita”

Foto: Ilana Lasky


Exposição inédita reúne grandes nomes da moda e da nova geração, com criações em renda e chita que unem o design e o artesanal em diálogo com a herança cultural no Brasil

A renda e a chita entrelaçam tempos e continentes. Elas vestem nossas histórias, ao tecer uma trama que se situa entre o pessoal e o coletivo. Entre 1º de outubro e 1º de dezembro de 2024, a exposição “Nó – o enlace da renda e da chita na Casa Fiat de Cultura” celebra a diversidade e a riqueza das influências culturais que formam a identidade brasileira. Numa realização conjunta entre a Casa Fiat de Cultura e o Museu A CASA do Objeto Brasileiro, e parceria com a Escola de Design da UEMG, a mostra tem o objetivo de valorizar o legado ancestral que permeia esses tecidos, destacando o diálogo entre o design e o artesanal. São 25 modelos de renda e chita criados por renomados estilistas brasileiros de diversas gerações, como Ronaldo Fraga, Graça Ottoni, Renato Loureiro, Dudu Bertholini, Glória Coelho, Zuzu Angel, Lino Villaventura, Luiz Cláudio, além de nomes que mostram a força e a vivacidade da nova geração, como Criola e Aislan Batista. Com curadoria de Carolina Bicalho, Renata Mellão, Silvia Fernandes e Sonia Kiss, a mostra enfatiza a pluralidade cultural do país e a valorização da tradição popular e do que transforma o comum em extraordinário. A exposição é inédita e apresenta peças feitas especialmente para a mostra, como é o caso dos modelos exibidos por estilistas mineiros e a obra da artista Ana Vaz. Toda programação da Casa Fiat de Cultura é gratuita.

A renda e a chita são tecidos permeados por histórias. A chita, introduzida no Brasil no período colonial, no século 19, proveniente da Europa e com antecedentes na Índia, tornou-se um símbolo da brasilidade, com presença marcante em festas populares, religiosas, em manifestações artísticas e no design. Alcançou o território nacional após sua produção em escala pelas centenárias fábricas têxteis de Minas Gerais. Já a renda, com origem na Europa, firmou-se como patrimônio imaterial, mantido pelas mãos habilidosas de artesãs de várias comunidades espalhadas por todo o território brasileiro. Para a curadoria, a exposição amplia o olhar sobre esses tecidos ancestrais e abre caminho a uma nova apreciação dos seus significados históricos e contemporâneos. “Este diálogo entre o local e o global, o artesanal e o industrial, reverbera nas peças expostas, evidenciando o papel da moda como um patrimônio vivo e dinâmico”.

A coexistência da chita e da renda no Brasil reflete a rica diversidade estética e cultural do país. Enquanto a chita, com cores vibrantes e textura rústica, representa a cultura popular e festiva, a renda, com delicadeza e padrões intrincados, simboliza o trabalho artesanal refinado. Juntas, essas tradições têxteis evidenciam o contraste e a harmonia entre o popular e o sofisticado, o vibrante e o delicado. “Nessa trama da renda e da chita, a moda revela sua potência como forma de expressão da cultura coletiva. Numa composição de formas e linguagens, os estilistas traduzem a sofisticação e a beleza do fazer artesanal e nos conduzem às raízes e à diversidade que tecem a identidade brasileira”, reflete o presidente da Casa Fiat de Cultura, Massimo Cavallo.

A exposição “Nó – o enlace da renda e da chita na Casa Fiat de Cultura” é uma realização da Casa Fiat de Cultura, do Museu A CASA do Objeto Brasileiro e do Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Conta com o patrocínio da Fiat, copatrocínio da Stellantis Financiamento, do Banco Stellantis, do Banco Safra, da Usiminas e da Sada. O evento tem apoio institucional do Circuito Liberdade, além do apoio do Governo de Minas, do Programa Amigos da Casa e da parceria com a Escola de Design da Universidade Estadual de Minas Gerais.

Os núcleos da exposição

A exposição estará dividida em quatro núcleos, que propõem reflexões sobre a importância da moda e dos saberes ancestrais na construção da identidade brasileira. “A trama de todos nós” exalta a liberdade de criação e a diversidade do povo brasileiro. “O desenho de linhas e flores” destaca a força das mulheres e da oralidade das tradições na preservação da herança cultural que une história e identidade, misturando tradição e inovação. O núcleo “o precioso popular” procura direcionar o olhar sobre as formas, as composições e os significados evidenciados pela cultura da moda. Já “o enlace do fio e do corpo” enfatiza a singularidade do diálogo entre as formas e os corpos, que traduzem narrativas e estéticas em um manifesto de beleza, plenitude, aceitação e autoexpressão. Cada um deles apresentará modelos criados com renda e chita, perfazendo um arco de 50 anos, num acervo que vai dos anos 70 a 2024 e cria camadas de entendimento cultural, de moda e de design, ao explorar a interação entre as pluralidades visuais e o comportamento.

Durante o percurso expográfico, o público reconhecerá trabalhos de consagrados estilistas brasileiros, como Lino Villaventura, Marcelo Sommer, André Lima, Walter Rodrigues, Liana Bloisi, Karlla Girotto, Reinaldo Lourenço, Samuel Cirnansck, Huis Clos, Adriana Barra, Dudu Bertholini e Glória Coelho. Além de grandes nomes de Minas Gerais, como Luiz Claudio, da Apartamento 03, Renato Loureiro, Graça Ottoni, Ronaldo Fraga, Victor Dzenk e Aislan Batista. A curadoria da exposição explica que “eles revelam, em suas criações, a criatividade, o talento e a ousadia nesse processo de reapropriação dos códigos culturais brasileiros na moda autoral”.

Os modelos apresentados na mostra também refletem o caráter de vanguarda presente nas formas e linguagens, como o vestido de noiva de Zuzu Angel, natural de Curvelo/MG, considerada a primeira mulher estilista brasileira e pioneira em destacar a brasilidade em seus desfiles-manifesto nos anos 1970. Já o manto da artista visual Criola revela seu olhar para a ancestralidade afro-brasileira, que ganhou atenção do mundo em sua recente criação para a equipe olímpica de skate do Brasil. 

Para destacar a importância “do fazer”, da tradição transmitida de geração em geração, a exposição apresenta objetos históricos do Memorial do Bordado, como bilros, moldes e fitilhos de renda renascença. E um vídeo com depoimentos de rendeiras brasileiras que mostram suas rotinas, técnicas e histórias daquelas que estão em constante desenvolvimento e aprendizado – um projeto que foi desenvolvido pelo “Museu A CASA do Objeto Brasileiro”, com coordenação do estilista Dudu Bertholini. O projeto teve o objetivo de promover a parceria entre designers e rendeiras de várias regiões do país, dando origem a alguns modelos que, inclusive, estão presentes na mostra. No vídeo, é possível acompanhar a rotina das rendeiras na criação das rendas filé, bilro, labirinto, renascença, irlandesa e francesa.

Ao observar a criação dos estilistas em cada modelo, muitas vezes, não é possível perceber e identificar os tipos de renda presentes na exposição. Assim, uma parede com as características e exemplares de cada renda vão revelar a delicadeza e a precisão de cada nó, cada trama. Nesse deslocamento estimulado pelos modelos em exibição, a memória afetiva daqueles que já viram essas rendas em suas casas, seja em decoração de utensílios domésticos, seja em enxovais personalizados, revela que essa tradição faz parte da vida de cada um. Além disso, em um mapa, feito especialmente para a exposição, será possível conhecer os trajetos continentais que a chita percorreu até chegar no Brasil, onde encontrou novas inspirações, que fizeram deste tecido elemento essencial para a cultura brasileira. O público também poderá conferir ensaios realizados entre 2005 e 2015 pelos premiados fotógrafos de moda: Jacques Dequeker e Guilherme Licurgo.

A cenografia criada para a mostra, pelos arquitetos Paulo Waisberg e Clarissa Neves, completa a experiência do visitante. Logo na entrada da Casa Fiat de Cultura, a chita é usada como matéria-prima a conduzir o olhar do público ao que será revelado. Outros elementos, como moringas, bambu, palha e flores, são usados para construir uma atmosfera de brasilidade. “Usamos materiais que fazem parte do nosso cotidiano como pano de fundo e invocamos objetos e texturas para auxiliar a passar a mensagem, da melhor maneira, para quem visitar a exposição”, explica Waisberg.

A chita foi rendada

Em uma homenagem à chita e à renda, a artista plástica Ana Vaz criou uma instalação especialmente para esta mostra. Ela utilizou a técnica do tricô, com cerca de 4.500 pontos, em grande escala, para construção da trama. Foram usados 200 metros de tecido provenientes da Fabril Mascarenhas, cortados em tiras de 20 centímetros. Seu processo de criação se deu numa imersão de seis dias e noites, com a colaboração de duas assistentes.

“Uma trama desconstrói o tecido para depois construir uma nova forma”, assim foi pensada esta obra, revela a artista Ana Vaz. “Ao receber o material, eu não tinha escolha das cores e formas dos desenhos e o desafio foi o grande ponto positivo deste projeto. Eu precisava fazer de uma forma intuitiva, que revelasse o meu modo de fazer, mas sem muito rigor. De forma livre, o processo de criação fluiu: fui rendando a chita, em um debruçar no fio, para dar forma a ele e, assim, construir algo novo”.

A instalação se apresenta em uma contraposição aos modelos da exposição, que têm forma definida, corte, costura, acabamentos. Já na obra de Ana Vaz, o único ponto existente são os de união de uma tira a outra, para que sua grandeza fosse criada, em grande escala e sem borda ou acabamentos. “A chita está como ela é, sem acabamento, sem passar, sem modelar. Em uma desordem da forma, desfiada e com fio solto, mas em uma construção de significados que falam de história, ancestralidade e identidade brasileira. Desejo que todos se sintam tocados por essa obra”, explica a artista.       

Estilistas

Karlla Girotto, São Paulo

Sonia Kiss, São Paulo

Ronaldo Fraga, Belo Horizonte

Reinaldo Lourenço, São Paulo

Liana Bloisi, São Paulo

André Lima, São Paulo

Walter Rodrigues, São Paulo

Graça Ottoni, Belo Horizonte

Marcelo Sommer, São Paulo

Lino Villaventura, Belém

Samuel Cirnansck, São Paulo

Zuzu Angel, Rio de Janeiro

Aislan Batista, Belo Horizonte

Luiz Cláudio, São Paulo

Victor Dzenk, Belo Horizonte

Adriana Barra, São Paulo

Dudu Bertholini, São Paulo

Glória Coelho, São Paulo

Criola, Belo Horizonte

Guilherme Licurgo, São Paulo

Jacques Dequeker, São Paulo

Bate-papo de abertura

Em uma curadoria de múltiplos olhares, a renda e a chita são investigadas para, a partir do passado, exaltarem suas singularidades, que fluem na alma da moda exportada do Brasil para o mundo. Para marcar a abertura da exposição, a Casa Fiat de Cultura reúne as curadoras Carolina Bicalho, Renata Mellão, Silvia Fernandes e Sonia Kiss em um bate-papo com o público.

Durante a conversa, as curadoras falarão sobre a origem da renda e da chita, dos estilistas que se destacam na cena nacional, além da importância de projetos de valorização desses saberes para o resgate da memória e sua perpetuação entre as novas gerações. O evento será realizado no dia 1º de outubro, às 19h, na Casa Fiat de Cultura. A participação é gratuita, com inscrição pelo site Sympla.

Programação educativa

O Programa Educativo da Casa Fiat de Cultura realizará visitas mediadas à exposição, por meio de agendamento, com uso de recursos interativos manuais, que estimularão os visitantes a conhecer curiosidades relacionadas à história dos tecidos e da moda no Brasil.

Também serão oferecidas visitas acessíveis a pessoas com deficiência visual e motora, por meio de materiais táteis que permitirão uma abordagem sobre a história das flores e sobre os padrões da chita, além da percepção das tramas dos diversos tipos de renda. Além disso, o tour virtual da exposição, disponível no site da Casa Fiat de Cultura, contará com audiodescrição, recurso que promove a ampliação do acesso do público em todo o Brasil.

Curadoria

Carolina Bicalho

Doutora em Design pela UEMG e estilista pela UFMG, Carolina Bicalho esteve à frente das coleções da Vide Bula por mais de uma década. Coordenou o desenvolvimento de produtos em Indústrias Têxteis mineiras e projetos no Museu da Moda, em Belo Horizonte. Representa a Universidade do Estado de Minas Gerais como curadora, nesta exposição.

Silvia Fernandes

Mestre em Administração, Economia e Marketing pela Université de Paris 1 – La Sorbonne e IAE Gustave Eiffel. Realizou cursos de extensão na Central Saint Martins, no London College of Fashion, e na ESPM, com foco em antropologia e insights do consumidor. Atualmente, ocupa o cargo de Conselheira Titular da Moda no COMUC (Conselho Municipal de Política Cultural de Belo Horizonte) e preside o Fórum da Moda de BH.

Renata Mellão

Formada em Economia, é referência quando se trata de artesanato no Brasil. Artista por vocação, fundou, em 1997, o Museu A CASA do Objeto Brasileiro, instituição que tem como objetivo contribuir para o reconhecimento, a valorização e o desenvolvimento da produção artesanal e do design, incrementando a percepção consciente a respeito do produto brasileiro, bem como promovendo sua produção cultural. 

Sonia Kiss

Desde 1980, atua nas áreas de moda, design e cultura. Nos últimos anos, tem colaborado, como curadora e produtora, em exposições e eventos, como a produção de “A Chita na Moda”, na Galeries Lafayette, em Paris, e a idealização, concepção e curadoria da exposição “Panos”, no Sesc Bom Retiro. Hoje, integra a Diretoria do Museu A CASA do Objeto Brasileiro.  

Casa Fiat de Cultura

Cumpre importante papel na transformação do cenário cultural brasileiro, ao realizar prestigiadas exposições. A programação estimula a reflexão e interação do público com várias linguagens e movimentos artísticos, desde a arte clássica até a arte digital e contemporânea. Por meio do Programa Educativo, a instituição articula ações para ampliar a acessibilidade às exposições, desenvolvendo réplicas de obras de arte em 3D, materiais em Braille e atendimento em libras. Mais de 90 mostras, de consagrados artistas brasileiros e internacionais, já foram expostas na Casa Fiat de Cultura, entre os quais Caravaggio, Rodin, Chagall, Tarsila, Portinari entre outros. Há 18 anos, o espaço apresenta uma programação diversificada, com música, palestras, residência artística, além do Ateliê Aberto – espaço de experimentação artística – e de programas de visitas com abordagem voltada para a valorização do patrimônio cultural e artístico. A Casa Fiat de Cultura é situada no histórico edifício do Palácio dos Despachos e apresenta, em caráter permanente, o painel de Portinari, Civilização Mineira, de 1959. O espaço integra um dos mais expressivos corredores culturais do país, o Circuito Liberdade, em Belo Horizonte. Mais de 4 milhões de pessoas já visitaram suas exposições e 700 mil participaram de suas atividades educativas. 

Exposição | Nó - o enlace da renda e da chita na Casa Fiat de Cultura

Período expositivo: 1º de outubro a 1º de dezembro de 2024

Visitação presencial: terça-feira a sexta-feira das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h (exceto segundas-feiras) 

Bate-papo com as curadoras da exposição

1º de outubro, das 19h às 21h, na Casa Fiat de Cultura

Inscreva-se gratuitamente pelo site Sympla 

Casa Fiat de Cultura   

Praça da Liberdade, 10 – Funcionários – Belo Horizonte/MG

Circuito Liberdade

Horário de Funcionamento

Terça-feira a sexta-feira, das 10h às 21h 

Sábado, domingo e feriado, das 10h às 18h   

Informações 

Instagram: @casafiatdecultura   

YouTube: Casa Fiat de Cultura  

Use máscara cobrindo a boca e o nariz. Se cuide!

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