Foto: Matheus Alves |
Quando Renato Carrera e Dani Ornellas decidiram oficializar sua companhia de teatro, o nome ainda não havia surgido – e nem tampouco o texto que faria essa estreia. Lima Barreto (1881-1922), então, se apresentou, saltando o livro “Os Bruzundangas” da prateleira de uma livraria para Renato, que leu a obra, se apaixonou e decidiu montá-la. Assim começou a história que deu nome à Bruzun Company, composta ainda por Hugo Germano e Jean Marcell Gatti, e os direcionou ao musical “Os Bruzundangas”, montagem inédita dirigida por Dani e Renato que cumpre temporada no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte (CCBB BH), de 26 de julho a 19 de agosto, de sexta a segunda, às 20 horas. Os ingressos, vendidos a R$30 (inteira) e R$15 (meia), podem ser adquiridos pelo site e na bilheteria do CCBB BH. Todas as sessões terão tradução em Libras e audiodescrição.
Primeira adaptação da célebre literatura de Lima para o teatro, a peça é uma comédia satírica que bebe da fonte do teatro de revista, apresentando a vida brasileira nos primeiros anos da Primeira República, com números de vedetes, questões políticas e canções, unida a uma dramaturgia que foi formatada por meio de várias crônicas sobre o mesmo assunto: a temática social brasileira sob um viés político. Bruzundanga é um país fictício, com o qual o nosso Brasil tem afinidades – diversos problemas sociais, econômicos e culturais. Em cena, os quatro atores cantam, dançam e interpretam suas aventuras através da ironia tipicamente carioca, embaladas por canções originais cantadas ao vivo.
“Este texto endossa uma questão muito nossa, da nossa língua, nossa brasilidade, nossa realidade, e com humor. Lemos o livro inteiro, juntos e em voz alta, para entender o que daria para transformar em dramaturgia a partir de uma obra que é composta por crônicas do começo do século XX. Trabalhamos sempre em cima do ator e da palavra, compreendendo a fala daquela época, realizando uma pesquisa consciente do que falamos em cena. É mágico montar este texto e ter sua encenação no palco do CCBB BH”, observa Renato.
Publicada postumamente em 1922, a obra de Lima contempla, sobretudo, a temática social, privilegiando os pobres, os boêmios e os arruinados, assim como a sátira, que criticava de maneira sagaz e bem-humorada vícios e corrupções da sociedade e da política. E este perfil veio ao encontro da demanda da Companhia, que busca mostrar Lima Barreto de uma forma que ele não costuma ser mostrado.
Mulheres na direção
“Sou uma mulher preta e estar estreando na direção teatral, com esta peça, é como um reforço do meu propósito de dar voz aos meus pais, que hoje já não estão aqui em matéria. Isso é muito significativo para mim”, pondera Dani Ornellas, que divide a direção do espetáculo com Renato Carrera.
Por outro lado, Renato ressalta sua autoria na letra da composição que abre a montagem. “Todas as demais foram tiradas de frases do livro, buscando a rima e a coerência de ideias exprimidas por Lima”, revela.
Dani Ornellas chama atenção para a perspectiva diferenciada que este espetáculo apresenta. “Quando a gente fala em musical, o pensamento vai na Broadway, certo? Mas como podemos pensar nisso se a terra primeira, onde nasceu a música, foi a África, território onde, até hoje, as crianças trabalham o movimento corporal desde muito cedo? Desconstruir a ideia de um musical eurocêntrico e americano, e conseguir fazer a música brasileira ressoar em corpos brasileiros é o que me interessa como espetáculo", complementa Ornellas, que acredita que as canções de Maíra Freitas respaldam esta ideia.
À frente da direção musical, Maíra Freitas traz um colorido à encenação, onde imprime seu ritmo para a prosa de Lima Barreto. “Gosto de fazer a música partindo da letra, já temos alguma coisa resolvida e vamos ajeitando para caber. A ideia está ali e o desafio é escolher as palavras mais importantes, o que vamos sublinhar, onde a melodia fica mais aguda ou mais grave, onde acontece aquele momento que faz as pessoas pensarem. E várias canções da peça têm isso. Para mim, música é educação, é o rito mais fácil para ensinar. Falar simples, falar pouco, fazendo todo mundo cantar e entender o que você quer”, pontua Maíra, que levou em conta ritmos da época em sua composição. “Ao longo dos ritmos brasileiros e da história, como podemos ver no livro de Lima Barreto, a temporalidade se mistura com a cultura e a identidade do nosso país”, finaliza a diretora musical, cantora e compositora.
A montagem conta com patrocínio do Banco do Brasil, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
O livro “Os Bruzundangas”
É um diário de viagem de um brasileiro que morou uns tempos na Bruzundanga, uma jovem República que lutava num ambiente de colapso do modelo escravocrata, deposto em 1889, embora ainda persistisse o predomínio dos grupos ligados à grande lavoura. Um país onde proliferavam elites incultas que dominavam o povo, racismo, pobreza, obsessão por títulos doutorais e literatura cheia de enfeites linguísticos.
No capítulo "Um Mandachuva", ele traça os contornos de um político anônimo, cujo perfil mantém a sua atualidade, decorrido quase um século desde o esboço. O político vem de uma cidadezinha no interior do país, tendo tido sua formação restrita às suas atividades domésticas e profissionais, sem qualquer gosto por pensamentos mais altos, como a arte e a cultura, mediocridade, desinteresse, provincianismo e descaso pelas audiências públicas. Alfredo Bosi afirma que a obra não é sobre um lugar fictício, mas sobre o Brasil do começo do século.
FICHA TÉCNICA:
Direção: Renato Carrera e Dani Ornellas
Direção Musical: Maíra Freitas
Direção de Produção: Bruno Mariozz
Elenco: Dani Ornellas, Hugo Germano, Jean Marcell Gatti e Renato Carrera
Cenografia: Daniel de Jesus
Figurino: Tereza Nabuco
Visagismo: Joana Seibel
Iluminação: Daniela Sanchez
Trilha Sonora Original: Maíra Freitas
Coreografia: Dudu Gomes
Assistente de Direção: Pedro Uchoa
Preparação Vocal: Carol Futuro
Assessoria de Imprensa: Luciana d'Anunciação
Programação Visual: Daniel de Jesus
Comunicação e Marketing: Rafael Prevot
Produção Executiva: Walerie Gondim
Assistente de Produção: Angélica Lessa
Fotografia: Roberto Carneiro
Produção: Palavra Z Produções Culturais
Idealização: Renato Carrera
Circuito Liberdade
O CCBB BH é integrante do Circuito Liberdade, complexo cultural sob gestão da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), que reúne diversos espaços com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em transversalidade com o turismo. Trabalhando em rede, as atividades dos equipamentos parceiros ao Circuito buscam desenvolvimento humano, cultural, turístico, social e econômico, com foco na economia criativa como mecanismo de geração de emprego e renda, além da democratização e ampliação do acesso da população às atividades propostas.
Espetáculo Os Bruzundangas
Local: Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte – Teatro II
Endereço: Praça da Liberdade, 450 - Funcionários, Belo Horizonte
Temporada: 26 de julho a 19 de agosto, de sexta a segunda, às 20h
Ingresso: R$ 30 (inteira), e R$15 (meia para estudantes, professores, profissionais da saúde, pessoa com deficiência [e acompanhante, quando indispensável para locomoção], adultos maiores de 60 anos e clientes Banco do Brasil com cartão Ourocard), à venda no site e na bilheteria física do CCBB BH.
Duração: 90 minutos
Classificação indicativa: 14 anos
Informações: (31) 3431-9400 |
Redes sociais: facebook: ccbb.bh | instagram: ccbbbh
Use máscara cobrindo a boca e o nariz. Se cuide!
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