Foto: Divulgação |
Presentes nas culturas mais diversas há séculos, as artistas drag combinam em seu trabalho uma variedade enorme de linguagens, da dança à moda, da maquiagem à interpretação dramática. E essa multiplicidade vai ocupar, pela primeira vez, o Grande Teatro Cemig Palácio das Artes. Apresentando ao público de Minas Gerais um espaço privilegiado para a visibilidade do trabalho dessas artistas, a Fundação Clóvis Salgado (FCS) realiza a segunda edição da Batalha Drag de Lip Sync. O evento ocorre na quinta-feira (10), a partir das 20h, com entrada gratuita e classificação indicativa de 16 anos. Participam da disputa as drag queens Mary Me, Aria Dreamz, Pérola Negrah, Paola Venturyni, Angel Sun, Polaris, Jessica Telles e Monalisa LeBlanc, escolhidas por meio de seleção realizada pela FCS. Os ingressos para o evento serão disponibilizados apenas presencialmente, na bilheteria do teatro, a partir das 12h, do dia 10 de agosto. Cada pessoa terá direito a 1 par de ingressos por CPF.
A ação integra a programação do Festival Já Raiou a Liberdade – Os Sons do Brasil, realizado pela Bento Produção Cultural e correalizado pela Fundação Clóvis Salgado. Apresentada pela drag queen Walkiria La Roche, referência na cena LGBTQIAPN+ de Minas Gerais, a competição contará com a presença da cantora Karol Conká, que fará uma performance musical especialmente preparada para o evento. Também como convidada especial, a drag queen Aysla Pirv traz uma apresentação em homenagem à cena drag de Belo Horizonte. Compondo o júri especializado, a disputa recebe a atriz e apresentadora belo-horizontina Kayete, além de Nadja Kai Kai – vencedora da primeira Batalha Drag de Lip Sync, realizada em 2017, nos Jardins do Palácio das Artes – e outras artistas. Oito drags participam da competição, disputando em duplas até a escolha da Grande Campeã.
O projeto Já Raiou a Liberdade – Os Sons do Brasil é uma realização da Bento Produção Cultural, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura – PRONAC 211370 -, com o patrocínio master do Instituto Cultural Vale e patrocínio da Gerdau, Cedro Mineração e Ferro Puro Mineração (empresa do Grupo Avante), com correalização da Fundação Clóvis Salgado.
Uma estreia no palco mais prestigiado de Minas Gerais – A expressão em inglês Lip Sync significa sincronia labial ou dublagem. Sendo assim, uma batalha de lip sync consiste em um desafio proposto entre duas ou mais artistas que, enquanto dublam uma canção, lançam mão de estratégias específicas de performance para superar os gestos cênicos da oponente. A prática se configura como uma das mais populares formas de expressão drag, ganhando grande popularidade ao ocupar espaço nos tradicionais canais de entretenimento mundial, seja em narrativas cinematográficas como Priscila, A Rainha do Deserto (1994), realities shows televisivos como Ru Paul’s Drag Race, ou na música brasileira, tendo Pablo Vittar e Gloria Groove como artistas de impacto global. No entanto, a arte drag já existe há muito mais tempo, e está desde sempre associada ao teatro. Em sociedades como a Grécia Antiga e a China e o Japão medievais, eram os homens quem interpretavam papéis femininos nos espetáculos, uma vez que as próprias mulheres eram proibidas de se apresentar nos palcos, assim como acontecia também no teatro shakespeariano. Sendo assim, a natureza da estética drag se confunde com a própria história da interpretação cênica e da construção teatral popular por excelência.
A presença e o trabalho dessas artistas ganharam outro patamar a partir dos anos 1960, quando as drags passaram a ser vistas como parte de um movimento cultural, com uma linguagem que está associada artisticamente à desconstrução dos estereótipos de gênero. Principalmente por esse motivo, há uma presença marcante nas performances de sátiras, alegorias e muita irreverência como forma de entretenimento. A Batalha Drag de Lip Sync se insere neste contexto de efervescência, democratizando o palco do Grande Teatro Cemig Palácio das Artes para uma ocupação inédita, realizada por artistas que poucas vezes se apresentam em espaços institucionalizados de fruição artística.
É o que reforça a apresentadora, Walkiria La Roche, para quem a arte drag, a vida e a própria sobrevivência sempre andaram juntas. “O palco do Grande Teatro Cemig Palácio das Artes é desejado por artistas do Brasil e do mundo. É difícil mensurar a importância deste espaço para a cena artística mineira, brasileira e mundial. Então a Batalha Drag de Lip Sync será a materialização da inclusão social e artística desse recorte da sociedade, que ainda é preterido no mercado formal de trabalho e nos espaços públicos”, ressalta.
A drag queen Nadja Kai Kai, que já performa há cerca de oito anos e venceu a primeira edição da disputa, também comemora a realização do evento no palco mais consagrado de Minas Gerais. “A Batalha Drag de Lip Sync no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes significa um grande ganho de espaço. Ouso dizer que as artes drag, queer e baseadas na feminilidade/mulheridade sempre foram e continuam sendo muito periféricas, mais presentes nos nichos. Então, colocar o evento nesse espaço de grandes óperas, peças de teatro, espetáculos de dança conceituados e artistas reconhecidos, é posicionar a arte drag neste mesmo patamar, o que possibilita ainda mais a expressão da potência e poder deste trabalho. É uma iniciativa muito importante, e é necessária”, ressalta.
Além de participar do júri, Nadja Kai Kai também subirá ao palco para performar seu estilo mais recente. Ela classifica a arte drag nacional como uma grande potência no Brasil e no mundo, e chama a atenção ainda para a relevância da Batalha Drag como uma janela de oportunidades, que marcou profundamente sua carreira. “Foi uma experiência incrível. A primeira Batalha aconteceu em um momento no qual eu estava começando a me desenvolver como drag queen, incluindo na minha arte questões políticas e sociais, de gênero e estéticas relacionadas à minha pessoa e performance. Foi um evento muito importante em termos de visibilidade, porque me introduziu com força total na cena drag de Belo Horizonte, além de ter aberto diversas portas na minha carreira desde então”, relembra.
Embora esteja muito associada à tradição cultural LGBT+, a arte drag não está circunscrita às questões de orientação sexual e identidade de gênero. Personalidades como Bette Davis, Joan Crawford, Elke Maravilha, Xuxa, Cassandra Peterson (conhecida pela personagem Elvira, a Rainha das Trevas), Lady Gaga e Karol Conká contribuíram para ampliar esse espectro, se convertendo em inspirações e também se espelhando nesta estética para o seu trabalho de comunicação com o público.
O público terá a oportunidade de reconhecer estas e outras influências ao longo das disputas. A apresentadora Walkiria La Roche garante que os espectadores podem esperar por performances e artistas de alta qualidade. Já a atual vencedora, Nadja Kai Kai, que dará as boas-vindas à nova campeã no Hall da Fama da Batalha Drag, afirma que buscará proporcionar ao público o melhor, tanto em suas próprias performances, quanto através de suas escolhas enquanto jurada. “Vou estar muito atenta às qualidades técnicas, com um olhar bastante criterioso avaliando o preparo, a sincronia labial perfeita, a energia, os movimentos, figurino e maquiagem. Quero muito ver o brilho de cada uma das maravilhosas artistas animar o Grande Teatro! Vai ser um sucesso”, adianta.
Walkiria La Roche – É Bacharel em Educação Física pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista em Gestão de Políticas Públicas pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais. O foco de sua carreira tem sido a visibilidade de políticas sociais para a comunidade LGBT+. Em 2006, foi eleita coordenadora do Centro de Referência Homossexual de Minas Gerais (CRH-MG), tornando-se a primeira transexual a ocupar um cargo executivo no governo mineiro. É docente no Centro de Treinamento da Polícia Militar do estado de Minas Gerais, onde atua na capacitação de agentes perante o público LGBT+. Walkiria é uma multi artista mineira conhecida em todo país por ser uma pioneira na criação e direção artística de espaços voltados para a visibilidade do trabalho drag em Minas Gerais. Inicialmente, esse processo se deu em boates que se tornaram febre entre a juventude da época, para posteriormente ganhar palcos consagrados nos teatros da cidade. Apresenta-se nas principais casas noturnas de Belo Horizonte.
BATALHA DRAG DE LIP SYNC + KAROL CONKÁ
Data: 10 de agosto (quinta-feira)
Horário: 20h
Local: Grande Teatro Cemig Palácio das Artes
(Av. Afonso Pena, 1537, Centro, Belo Horizonte)
Classificação Indicativa: 16 anos
ENTRADA GRATUITA, COM RETIRADA DE 1 PAR DE INGRESSOS POR CPF, APENAS PRESENCIALMENTE, NA BILHETERIA DO GRANDE TEATRO CEMIG PALÁCIO DAS ARTES, A PARTIR DAS 12H DO DIA 10 DE AGOSTO
Informações para o público: (31) 3236-7400
Use máscara cobrindo a boca e o nariz. Se cuide!
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